RELATÓRIOS DAS ATIVIDADES LAEDES 2017
PERCEPÇÕES DE UM JORNADA DUPLA: JOVENS NO MERCADO DE TRABALHO EM TEMPOS DE ESCOLARIZAÇÃO
Luís Gomes da Silva Neto
As percepções da noite do dia 18 de maio de 2017, data em que desenvolvemos a primeira ação do LAEDES no semestre 2017.1, na E.E.F.M LUÍS FELIPE, foram mistas. Na ocasião, estivemos na turma do terceiro ano “L” e houve uma interação agradável com a maioria da turma, mas notamos um cansaço por parte dela. São alunos que estudam à noite, pois, a maioria, trabalha no turno do dia. É uma rotina puxada haja visto que ainda estão na fase escolar, são jovens que possuem muitas dúvidas acerca da futuro e já possuem uma carga de responsabilidade exorbitante: ajudar das despesas da casa.
Conversando no grupinho, deparei-me com uma fala interessante de uma moça, que por sinal estava bem decidida em relação às suas ações futuras, tinha pretensões de cursar designer de moda. Ela comentou que alguns alunos não quiseram participar das atividades do projeto porque estavam cansados e muitos não queriam saber de faculdade. Ela relatou: “Aqui não tem muita gente interessada na universidade, todo mundo trabalha e chega cansado”. A maioria dos jovens que participaram, enveredaram-se pelos diálogos que remetem aos anseios de um curso de graduação. Falaram da rotina, da cobrança dos pais para ajudar nas despesas de casa e do compromisso que muitos tem com a escola, pelo menos, de terminar o ensino médio.
De alguma forma, percebeu-se que a inserção no mercado de trabalho desejos jovens também tinha uma relação com fatores como identidade (de não ser enquadrado como um “vagabundo”), de autonomia e liberdade (de não depender tanto dos pais no quesito financeiro) ou no que tange ao consumo de mercadorias. Contudo, o que preponderou, de fato, foi o fato de trabalhar principalmente para ajudar a família.
Esses jovens trabalhadores e que estão em época de escolarização dizem de um contexto social excludente, em que eles passam grande parte do tempo desenvolvendo atividades de trabalho, restando apenas um período, no caso o noturno, para o direito à educação. Ao ser indagado sobre o tempo de estudo, um rapaz respondeu: “Trabalho de seis da manhã às 16:00, vou para casa, tomo banho, merendo e vou para a escola, é o tempo que estudo”. Quando perguntado se teria um tempo após o colégio para estudar para o vestibular, ele relatou que não.
Esses jovens de periferia, em sua grande maioria, ao executarem o trabalho, em época de escolarização, vão sendo excluídos de uma formação coerente para uma construção identitária. Então, segundo Cattani, “nas sociedades marcadas pela confrontação de classes, ou naquelas em que existe uma grande assimeria de poder, as funções da educação podem ser apresentadas de maneira simplista: preparação privilegiada das elites e forma de exclusão ou de opressão dos menos favorecidos” (CATTANI, 1996, p. 139-140).
Enfim, a ação se deu em dois tempos de 50 minutos cada, tempo curto para dialogarmos, mas houve uma interação interessante acerca do mundo acadêmico, de cursos de graduação e foi um momento de escuta dos anseios desses jovens de jornada dupla. No que concerne essa realidade excludente, pode-se afirmar que a educação deve ter uma prioridade, assim como a viabilização de uma ação digna para uma eventual autodeterminação, que pode ocorrer pelo trabalho, mas não nos moldes que ocorre, por exemplo, com o jovem que relatou, anteriormente, 10 horas diárias.
Referências
CATTANI, A. D. Trabalho e autonomia. Petrópolis-SP: Vozes, 1996.
RELATÓRIO DAS ATIVIDADES DO SEMESTRE 2017.1 – LAEDES
Denise da Silva Araújo
Logo no início do semestre 2017.1 ocorreu uma reunião administrativa na qual foram levantadas expectativas e foram feitos planejamentos sobre como iriam ser as atividades do LAEDES nesse período. Foram delegadas as atividades que cada extensionista iria realizar, elencados possíveis textos para leitura e discussão nos grupos de estudo e citadas algumas escolas para fecharmos parceria para realizar as ações.
No decorrer do semestre, foram fechadas parcerias com 3 escolas do município de Sobral, a saber: E.E.F.M Professora Carmosina Ferreira Gomes, E.E.F.M Professor Luís Felipe e E.E.F.M Professor Arruda. Na E.E.F.M. Professora Carmosina Ferreira Gomes foram realizadas um total de 14 semanas de atividades da Extensão Ensino, Docência e Resistência. Além disso, ocorreram 3 ações na E.E.F.M Professor Arruda e duas ações na E.E.F.M PROFESSOR LUÍS FELIPE. É relevante salientar ainda os encontros de leitura e discussão dos textos que ocorreram quinzenalmente contabilizando um total de 7 encontros.
Os textos estudados versavam sobre as teorias de Karl Marx e Pierre Bordieu. A leitura e discussão dos textos deram subsídios para que pudéssemos analisar algumas contradições nas quais os sujeitos estão inseridos social e historicamente, refletir sobre como os tipos de capital – econômico, social, simbólico e, sobretudo, o cultural – contribuem para uma dominação ideológica, bem como da função das instituições de ensino enquanto espaços reprodutores e cronificadores de desigualdades. Além disso, vale ressaltar que as discussões realizados nos momentos de grupos de estudo deram suporte para que fosse possível ter um maior entendimento das falas que surgiam durante as ações.
Nas escolas, as ações eram realizadas de modo a buscar promover diálogo e reflexão visando um posicionamento crítico a partir da apresentação de curta-metragens e um breve documentário, seguido por um momento de formação de rodas de conversa nas quais cada extensionista ficava responsável por mediar as discussões com uma quantidade de alunos, e por fim, havia um momento de esclarecimento de algumas dúvidas que surgiram durante as rodas de conversa e de apresentação de questões relativas às formas de ingresso em universidades públicas da região, os cursos disponíveis nessas instituições de ensino superior, e outras questões relativas à vida na universidade.
Ingressar no Laboratório de Estudo das Desigualdades foi/está sendo uma experiência bastante significativa por ser minha primeira participação em uma ação de extensão. Experiência essa que eu não poderia ter noção do quanto iria impactar minha vida pela possibilidade de reviver minha história em cada ação, em cada fala e curiosidade que os alunos traziam nas ações, em cada leitura e em cada discussão nos grupos de estudos eu pude reviver minha história antes e depois da academia. Muitas vezes com pesar, mas também como potência. Participar de um campo de atores tão diversos e em tão pouco tempo deixa aquele gosto de quem come e não se sacia. Como quem come e não sacia, guardo esperanças de mudanças coletivas. Enquanto laedeanos é esse o exercício constante que buscamos.
RELATÓRIO SEMESTRAL
Marco César de Souza Melo
Durante esse semestre de 2017.1 estudamos a obra Bourdieu e a educação da autoria de Maria Alice Nogueira e Paulo Martins Nogueira. De modo especial, esse estudo favoreceu, a meu ver, o trabalho nas ações de extensão, já que os temas abordados na obra se relacionam com o campo no qual atuamos. Muito embora os assuntos vistos nesta obra já estivessem presentes nas discussões anteriormente realizadas no grupo de estudo, em textos já estudados, é importante a leitura de outros autores que tematizam os conceitos e as teorias das quais nos aproximamos pelo enriquecimento e desdobramento teórico que eles podem nos proporcionar e, sem esquecer do embasamento para as ações de extensão. Quando estudamos nos textos as reflexões sobre a desigualdade, habitus e como isso implica na educação, tivemos na extensão o contato direto e concreto com esses elementos teóricos, isto é, enxergamos de alguma forma na prática o que nos disse a teoria. Naturalmente nem tudo aparece à risca tal como está nos livros, mas isso, ainda assim, é positivo, pois nos mostra os limites e possibilidades de desdobramento da teoria, elementos para estudos e reflexões futuras.
As ações de extensão, por seu turno, foram bem executadas em conformidade às demandas que recebemos. As modificações na estrutura das ações favoreceram não somente o nosso processo de atuação, mas contemplaram satisfatoriamente aquilo que as instituições esperavam. Isso foi perceptível não só nas expressões do público alvo, mas também nas falas dos responsáveis pelos espaços onde atuamos. O vídeo Questão de Oportunidade substituiu bem o relato de vida, porque me parece que ele conjuga duas coisas: de um lado fala da vida de jovens estudantes que conseguiram adentrar na universidade e, por outro lado, aborda, ainda que sumariamente, aspectos da dinâmica da universidade. Esses dois fatores tornam o vídeo atrativo aos estudantes e promove a ação de extensão.
De modo geral me sinto com a sensação de que caminhamos bem nesse semestre, tendo em vista as outras tarefas com as quais nos ocupamos. Foi um período proveitoso em termos de aprendizado do ponto de vista teórico, com ênfase nas contribuições das leituras e discussões para nossas pesquisas. Com relação à prática da extensão, foi um semestre de atuações bem preparadas e bem executadas. Percebo que essa experiência do fazer tende a ser aperfeiçoada consolidando não só nossa capacidade de atuação em campo, mas, sobretudo, nossa identificação com a causa da qual nos ocupamos.