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Universidade Federal do Ceará
LAEDDES – Laboratório de Estudos das Desigualdades & Diversidades

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HISTÓRICO

Por Denise Silva Vasconcelos

Coordenadora do Projeto

O Laboratório de Estudos das Desigualdades – LAEDES – teve origem em março de 2010. A ideia inicial era mostrar às pessoas pobres que elas não são obrigadas a continuarem em condições de miséria perdidas meio à “negação de seus direitos” e necessariamente sofrendo as consequências de uma vida sem recursos financeiros.

Juntos eu, Bruna Clézia Neri, George Luiz Costa, Paulo Roberto, Rosiane Albuquerque, Denilson Paixão e Fidel Viana, demos início às leituras que diziam respeito ao tema de interesse: POBREZA. Tudo começa com a frase clássica de Karl Marx: “saber e não fazer é o mesmo que não saber”.

Entendemos juntos que queríamos fazer de nossas formações algo útil, algo que pudéssemos chamar de ciência da práxis. Outra frase que nos movia e move também vem do velho Marx: “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem”. Entendemos isso e aceitamos que apesar de não podermos mudar a história como todo, podemos fazer algo diferente em nossa própria história. Assim tal qual pensa Cecília Meireles: “mude o homem e você mudará o mundo”, resolvemos que mudaríamos o mundo começando de um por um. Então, por que não começar nossa leitura pelo Karl Marx?

Nossa primeira leitura, então, foi sobre a dialética marxista que nos explicou como entender a realidade. Nunca somente por um lado, mas entendendo que a pobreza é consequência da riqueza. E esse tem sido nosso método de análise até hoje.

Nossa segunda leitura foi o livro de Ducan Green, intitulado “Da Pobreza ao Poder”. A partir deste livro demos o nome oficial do LAEDES – “Conhecimento é Cidadania Ativa”. A ideia do autor é a de que cidadãos conscientes de seus direitos são ativos e podem mudar a sua própria história, para tanto há uma condição básica para se sair da pobreza e se alcançar o poder: conhecimento. Entretanto conhecimento de que? De seus direitos, de sua igualdade, dos impostos que são pagos e a que se destinam, da obrigatoriedade do cumprimento de promessas de campanhas políticas; conhecimento de que existem universidades públicas, conhecimento de que os governantes têm determinadas obrigações, que se cobradas podem ter retorno, enfim, conhecimento dos direitos do cidadão de um modo geral.

Com essas duas leituras, iniciamos nossos trabalhos. Ansiosos por mudanças, fomos a campo convencer as pessoas a mudarem suas histórias. Percebemos que não era tão simples assim: É preciso querer mudar. É preciso querer “tomar a pílula de Morfeu”[1] e incrivelmente acordar do mundo das sombras e descobrir que vivemos numa prisão, para então buscarmos a liberdade. Não é necessário usar somente as cordas que já jogaram no poço[2] da pobreza, pode-se reinventar e sair desse buraco com seus próprios esforços.

Quem quer sair dessa? Quem sabe que pode sair dessa e não sai por que não sabe como? O LAEDES, então, percebeu que estuda todas as desigualdades: de raça, de gênero, de idade, e que o que complica a desigualdade é o fator econômico, por que ser desigual não é ser diferente. Ser desigual é ser tratado de forma discriminatória devido a uma condição econômica e/ou social, o que para Marx dá no mesmo.

Então, qual nosso público? Qualquer um em condições materiais de existência precárias. Como ir a campo? Dependíamos e dependemos ainda hoje das instituições que “acolhem” os excluídos para a inclusão. Fechou-se então nosso roteiro de conceitos principais: desigualdade, pobreza, e exclusão social.

Nosso primeiro público foram os jovens cumprindo medidas socioeducativas num projeto da prefeitura chamado POEAOS. Passamos um ano lá. As experiências foram muitas, e com o gosto amargo de não servirmos para nada. Já que não tínhamos como voltar para saber se fomos ouvidos.

Durante tal percurso em conversa comigo, focando em minha história de vida, um dos laedeanos, estudioso de Paulo Freire, destacou o fato de que a universidade é um caminho possível para o aceite da “pílula”, mas antes alguém precisava avisá-los que isso é real e possível. Tomamos para nós a missão de levar essa informação – CONHECIMENTO – para pessoas que tenham interesse em mudar sua história. Nasceu, então, o REESCREVENDO MINHA HISTÓRIA. Nossa ideia é apontar saídas, nunca ditá-las. Esse projeto tem a seguinte ação: A narrativa de histórias de vida de sucesso, sempre comparada com algum vídeo que mostre o contrário. Na prática a ação ocorre assim: após os vídeos, e o contar da história são formados pequenos grupos de no máximo seis pessoas e os estudantes (laedeanos) após a apresentação de cada um do grupo, conduzem um diálogo com perguntas simples em torno das histórias vistas: o que você observou nessas histórias? Em algum momento se identificou com o que viu? Essa segunda pergunta abre espaço para situações várias: tudo vai depender do que vai ser respondido. Não há uma receita para lidar com respostas que tem a ver com histórias de vida tão singulares. Temos, entretanto um eixo: destacar que há saída, sempre lembrando que o público tem de querer essa saída. Devido sua peculiaridade com a subjetividade dos sujeitos envolvidos, esta ação é organizada por bolsistas da Psicologia.

Deste modo, o Reescrevendo vem trabalhando com instituições tais como: SENAC, Escolas públicas e atualmente com o SESI. Há outra ação do Reescrevendo que nunca foi implementada: o Work Shop, nesta ação pretendemos apresentar os cursos da UVA e da UFC para alunos que pretendam entrar no mundo acadêmico e não sabem sequer que existem estas universidades em Sobral.

Devido aos estudos bibliográficos, o LAEDES percebeu que um dos fatores complicadores da pobreza é o consumo não planejado. Assim nasceu o segundo braço do laboratório: PREVER PARA PROVER, que é uma frase positivista e aponta para a necessidade de planejamento com relação à receita de cada um. Com base nessa premissa das ciências econômicas, temos esse projeto com a ação denominada “Educação Financeira”. Essa ação é um minicurso organizado e ministrado por bolsistas da Economia.

Nossa missão é árdua, mas não temos pressa, temos fé e ideologia o bastante para termos ciência de que não vamos mudar tudo, mas aquele que realmente quer pode contar com tudo que temos: CONHECIMENTO. É isso que diferencia os laedeanos e laedeanas: são pessoas que carregam consigo uma arma que nem todos sabem usar, o CONHECIMENTO, entendido aqui como PODER.

 


[1] Referência ao filme Matrix.

[2] Referência ao filme Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge

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